Meu Timão

Na análise tática que fiz sobre a final contra o Flamengo, as opiniões foram bastante divididas principalmente pelo fato de eu ter sugerido, no jogo da volta, colocar Maycon ou Ramiro no lugar de Vera, visando marcação média pra alta para impedir o Flamengo de ter posse de bola, principalmente pelo fato de Arturo Vidal provavelmente ser o titular.

Embora o feedback tenha sido mais positivo do que negativo, fui muito criticado por esse ponto de vista. E isso se deve a mentalidade que muitos, inclusive profissionais de comunicação e analistas – possuem de Vera como sendo um primeiro-volante. E por isso, o objetivo desse artigo será esclarecer a real função de Fausto Vera.

POSICIONAMENTO EM CAMPO

A posição real de Fausto Vera na verdade é de pivô, também chamado de regista. É um volante cuja principal função é fazer a transição de bola da defesa para o ataque, tendo Andrea Pirlo como o originador da posição.

O diferencial dele é que ele também faz a função de um box-to-box (segundo volante estilo Paulinho), como um meia-de-criação (camisa 8) e como meia-atacante (camisa 10). Ele joga exclusivamente por dentro e mais recuado, embora, quando tem a liberdade, ataca bastante, possuindo chute de longa distância. Circula bastante pelo campo procurando companheiros para construir jogadas agudas, possui forte presença de área, inclusive em bolas aéreas, e é muito bom driblador. Não é à toa que Victor Pereira ficou desesperado por tanto tempo em ter esse jogador no elenco, pois de fato ele tem tudo para ser, sem exagero nenhum, titular da Seleção Argentina por muitos anos.

O único outro jogador que tem característica parecida no Corinthians é o Cantillo, que é um dos melhores pivôs/registas que tivemos desde há muito, muito tempo (sei não se ele é o primeiro regista contratado nos últimos 10,12 anos. Não lembro de nenhum outro nesse período). Mas ele normalmente fica mais fixo como pivô, raramente descendo ao ataque – e isso porque ele pode sim fazer a mesma coisa que o Vera, como fez em um dos gols dele ano passado (fiz análise desse jogo, não me lembro qual). Cantillo só não opta por fazer isso com frequência porque ele não é um jogador veloz como o Vera.

Se Fausto fosse de fato um primeiro-volante, ele tinha que ser muito bom desarmador, mas a verdade é que ele intercepta pouco e rouba pouco as bolas. Ele tem uma média de cerca de 55% de interceptações e roubos de bola por temporada. Ralf tinha muito mais do que isso. Muita gente tem a impressão de que ele é um primeiro volante porque as coberturas defensivas dele são excelentes, mas ele não é um interceptador nem um roubador nato.

É por isso que preferi Maycon ou Ramiro no lugar dele na final: no segundo tempo sofremos demais nas mãos do Flamengo por conta das descidas imprudentes e em má hora do Fagner, com Fausto tendo fortes dificuldades para recuar. E não creio que isso seja devido ao cansaço ou má adaptação, mas simplesmente por não ser da característica de Fausto recuar dessa forma.

Historicamente, o único até agora que consegue cobrir Fagner quando ele desce ao ataque, com bastante êxito, seja posicionado como meia-direita ou como segundo volante, é Ramiro. Quantas vezes ele fez isso, nos salvando de poucas e boas!

Um jogador da base que temos atualmente com características parecidas é o Luís Mandaca, um volante regista que joga de primeiro-volante, zagueiro e meia-de-criação. Na base, ano passado, ele possuiu uma média de acerto de passes e desarmes bem mais alta que a de Fausto e Cantillo. Atualmente ele está emprestado ao Londrina e disputando a Série B, porém estão cometendo o erro de escala-lo como meia-direita.

QUAIS ESCALAÇÕES SÃO IDEIAIS PARA FAUSTO VERA?

É perfeitamente possível fazer um esquema em prol exclusivamente do Vera, assim como Tite ideou o time de 2011 a 2013 em prol do Paulinho.

Um 4-1-3-1-1 seria interessantíssimo para ele. Um meio-campo composto por Maycon, Paulinho, Fausto Vera e Cantillo, com Renato Augusto/Giuliano de meia-atacante e Yuri Alberto no ataque seria o terror de muito time por aí: não seria nem de longe um meio-campo lento, mas rápido, dinâmico e fortemente dominante no meio-campo, tendo como meta atacar principalmente por dentro. Se não me engano, a Juventus jogou parecido alguns anos atrás com jogadores com características semelhantes de passe e infiltração (não eram de todo volantes, mas a mentalidade de ataque e defesa eram iguais). Nesse esquema, Fausto reveza de posição com Renato Augusto ou chega junto com ele quando necessário.

Outro esquema ideal seria um 4-2-3-1 ou 4-3-3 com esquema de duplo-pivô, com Fausto Vera e Cantillo fazendo essa dupla. Num 4-2-3-1, Ramiro, Renato Augusto e Mateus Vital seriam os meias (sem Roger Guedes porque é um jogo para meias e não para pontas). Já num 4-3-3, o meio-campo seria composto de Renato Augusto/Giuliano jogando à frente do duplo pivô, e o ataque seria composto de Gustavo Silva, Yuri Alberto e Róger Guedes.

Outro esquema poderosíssimo seria um 3-4-3, mas pra isso seria mais do que ideal se tivesse zagueiros que fossem ao ataque. O esquema seria com Bruno Méndez, Balbuena e Raul Gustavo; Fagner, Fausto Vera, Paulinho/Giuliano e Fábio Santos; Gustavo Silva, Yuri Alberto e Róger Guedes. Outra alternativa pra isso é Ramiro na direita e Lucas Piton na esquerda, aumentando ainda mais o poder de passe e infiltração.

CONCLUSÃO

A dupla ideal para a final contra o Flamengo sem dúvida seria Maycon e Fausto Vera, mas tudo vai depender de como será composto o meio-campo. Sugeri o que sugeri na análise tática levando em conta a permanência de Du Queiroz, que é um box-to-box e não primeiro-volante nem meia externo, e Adson, que é meia-atacante central que alterna como meia-de-criação, e não é nenhum meia externo ou ponta, como jogou contra o Flamengo.

Aliás, preciso acrescentar aqui que a repulsa ao Adson carece totalmente de lógica, já que a diretoria do Corinthians detesta meias-atacantes, detestam um camisa 10. O último que tivemos foi Douglas (Renato Augusto e Danilo não são/eram camisa 10, mas sim um 8), que foi um dos melhores que já vi, campeão de tudo e oscilou muito na carreira por forçarem ele a jogar fora de posição. Luan, Pedrinho e Mateus Vital são meias-atacantes de origem que foram forçados a jogarem fora de posição, seja como meia-externo, seja como meia-de-criação. No caso de Luan e Vital, eles são os únicos que transitam de meia atacante e falso 9 para meia-esquerda, porém mesmo sabendo que eles exercem tal posição, raramente eles jogaram até mesmo como meias externos, porque a diretoria sempre preferiu pontas e não meias externos. E no caso de Pedrinho, ele alterna como meia-de-criação, mas ele nunca teve a oportunidade de jogar nessa posição no Corinthians. E é por isso que sou contra a contratação do Oscar, pois de que adianta contratar um meia-atacante ofensivo sendo que historicamente há influência interna do Corinthians em não jogar com um camisa 10?! Nem Adson e outros que citei foram escalados assim com frequência – muitos dos jogos que o Corinthians ganhou esse ano foi colocando Adson como meia ofensivo transitando pra meia-de-criação, e de uma hora pra outra colocaram ele como meia direita. Uma hora eu vou fazer um artigo especialmente sobre isso, falando da incoerência em contratar Oscar devido a mentalidade da diretoria que influencia internamente a não ter jogador nessa posição.

E é isso, pessoal. Espero ter deixado bem claro sobre quem é Fausto Vera de verdade. Deixei de fazer análises devido a forte rotina de estudo e trabalho, mas com certeza farei uma análise pós-jogo na final da Copa do Brasil. Até lá, tenho convicção de que a escalação será a melhor possível. Afinal temos um elenco competitivo que ainda está em ascensão. Ganhando ou perdendo, ultrapassamos a meta que tínhamos na Copa do Brasil, e não é demérito perder para o Flamengo, a não ser que se perca jogando um futebol indigno.

VAI, CORINTHIANS!