Meu Timão

Não quero entrar nessa seara pra discutir se o Cássio saiu pela porta dos fundos ou não, muito menos apontar uma suposta ingratidão dele ou evidenciar a clara estupidez demonstrada nas atitudes virtuais de determinados familiares de atletas.

O ponto aqui é mudar o foco para o quão parvos são os jogadores de futebol que atuam pelo Corinthians ao desconhecer o real tamanho dessa instituição.

O Corinthians é o maior dínamos esportivo que essa gloriosa nação já produziu. Se ele está bem dentro de campo, arrasta multidões em qualquer meio, se está péssimo, a audiência dobra.

O Corinthians é a única agremiação do país com esse real toque de Midas. O atleta pode ter sido medíocre ao envergar o manto, e contar com uma passagem curta pelo Timão, mas basta existir uma leve associação entre ele e o Todo-Poderoso que, assim que pendurar as chuteiras, já tem podcast o convocando para fazer aquelas sofríveis 'resenhas' falando sobre os bastidores do Corinthians, UOL noticiando com destaque alguma fala dele na referida entrevista, colunista de jornal desenvolvendo uma tese sobre algum tema que ele puxou, etc...

Que outro clube teria a proeza de produzir o fenômeno CRAQUE NETO? José Ferreira Neto foi fundamental para a conquista do primeiro campeonato brasileiro da história do Corinthians. Isso é um fato. Mas o restante de sua carreira foi marcada pela irregularidade. Nunca foi unanimidade entre os analistas de futebol e quando pendurou as chuteiras amargou uma série de empreitadas fracassadas - o comando do Guarani é lembrado por muitos como um dos momentos mais baixos do clube campineiro.

Mas então Neto resolveu assumir de vez sua identificação com o Corinthians. Daí surgiram os inúmeros convites para participar de programas de debate esportivo, que culminaram com uma atração própria e gordos contratos. Não digo que a pessoa não tenha se esforçado para obter tudo o que a vida lhe trouxe, e nem que não possua capacidade para tal, mas sem a marca Corinthians por trás as chances disso ter ocorrido seriam ínfimas.

Qualquer jogador cuja última passagem antes da aposentadoria tenha sido no Corinthians automaticamente recebe convites para comentar campeonatos em grandes redes televisivas, virar atração em programas de auditório, conceder longas entrevistas em shows dominicais, etc.

Não tem nenhum problema o Cássio ter imposto sua saída ao clube porque não aceitou a reserva que lhe foi imposta pelo técnico. Não vou criticá-lo por abandonar o grupo em um momento no qual esse tipo de cisão tem o poder de colocar todo um trabalho a perder. Não vou xingar seus familiares por demonstrarem ressentimento - não justificado - com a instituição que proveu tudo do que desfrutam. O tempo é que vai tratar de clarear em suas cabeças o quão inocentes foram.

Porque daqui a alguns anos o Cássio terá sua última baixa na carteira de trabalho, e daí vai perceber a guinada que ocorrerá em sua vida justamente por ter tido o privilégio de usar profissionalmente a camisa do Corinthians. As contas não pagas em restaurantes, o assédio dos torcedores, os inúmeros convites para as mais diferentes atrações (todos bem remunerados), os polpudos cheques das mais diferentes empresas de diversos segmentos para endossar um produto/serviço, a legião de seguidores nas redes sociais alavancando a monetização da imagem, e tantas outras benesses reservadas a quem teve, em algum momento, um link com o colossal Sport Club Corinthians Paulista.