Meu Timão

Hoje vamos folhear a revista Corinthians – Órgão Oficial do Sport Club Corinthians Paulista nº 4, de fevereiro de 1950. Na capa, Bino, goleiro do Timão de 1943 a 1951:

“Se há jogador dentro do Corinthians merecedor de toda a simpatia, de toda admiração, esse jogador é Bino. O nosso simpático arqueiro, não só pelas atuações brilhantes, mas pela sua dedicação às nossas idolatradas cores, como também pela sua disciplina, conseguiu dentro do nosso clube uma personalidade inconfundível, torando-o um ídolo de toda a imensa família alvinegra. (...)

É no momento um dos jogadores mais antigos, pois ingressou para o plantel de craques do nosso Campeão do Centenário em 1943, onde vem figurando como um elemento de primeira grandeza, dentro de seus notáveis recursos.

A revista ‘Corinthians’, querendo render-lhe toda a gratidão, apresenta-o na capa, numa pose especial para Viotti, o mago da objetiva. Esta é a nossa homenagem sincera ao digno sucessor de Colombo, Tufy e José I, que foram grandes no arco corinthiano.” (p. 11)

Bino esteve na vitória – muito comemorada pela revista – de 2x1 sobre o Vasco, em 22.01.1950, no Pacaembu, pelo Torneio Rio-São Paulo. O time jogou com: Bino, Newton e Belfare; Idário, Touguinha e Hélio (Roberto Belangero); Cláudio, Luizinho, Baltazar, Nelsinho e Noronha.

No desafio entre os times de Baltazar “Cabeça de Ouro” e Ademir “Queixada”...

... Ou, se preferirem, no duelo pessoal entre Baltazar e Barbosa...

... Venceu o Campeão do Centenário, o Campeão dos Campeões, o...

“... Esquadrão mosqueteiro, alvinegro da Fazendinha, demolidor de campeões, mais brasileiro do Brasil e tantas outras cognominações que não nos ocorre à memória no momento, (...) o clube nacional que possui mais cognominações significativas. E todas elas lhe assentam perfeitamente bem por serem alcançadas no campo da luta. E, por isso, não nos cansamos em afirmar com o máximo orgulho: o Corinthians é a maior expressão esportiva de nossa terra!” (Sérgio Motta, p. 7)

E venceu com a emoção da virada. Primeiro Cláudio converteu um pênalti sofrido por Nelsinho. Depois...

“A partida atinge os 23 minutos do tempo complementar. O tento da vitória estava ‘amadurecendo’ e... Eis que a ‘Cabeça de Ouro’ de Baltazar, aproveitando um ótimo centro de Cláudio, de forma espetacular, decreta a vitória do nosso glorioso e tradicional Campeão do Centenário!

Foi uma cabeçada maravilhosa, espetacular e extraordinária que valeu por uma grande vitória! Os corinthianos explodem em entusiasmo! Verdadeiro delírio toma conta do Pacaembu!” (Antoninho d’Almeida, p. 4)

Lembrando que foi justamente em cima do cruzmaltino (cuja Cruz não é de Malta, “diga-se de passagem”) que o Corinthians conquistou o título de Campeão dos Campeões, em 1929 – em outra virada:

“Para muitos, esse título foi disputado pela primeira vez, entre nós, em 1942. Puro engano. Em 1929 ele já pertencia ao Corinthians, quando abateu, no Rio de Janeiro, o Vasco da Gama.

Foi essa uma memorável jornada nas nossas cores, pois ao faltarem apenas dezoito minutos para terminar o referido encontro entre os dois grandes campeões, o nosso clube perdia pela contagem de dois a zero! E, quando menos se esperava uma vitória corinthiana, uma vez que o conjunto vascaíno era, nessa época – assim como o é hoje – dos mais poderosos, eis que os defensores corinthianos se agigantam extraordinariamente e transformam a derrota em uma espetacular vitória pela contagem de 3 a 2! Fantástico, simplesmente extraordinário e sensacional esse triunfo!” (Sérgio Motta, p. 6)

Mas voltando a 1950, além de Bino e Baltazar, quem mais participou dessa vitória?

O “Pequeno Polegar” Luizinho:

O zagueiro Belfare, que marcou Tesourinha (que marcou o gol vascaíno):

E Idário, que mereceu reportagem de três páginas de Ferraz Netto e Viotti:

Ele saiu do Sams Futebol Clube (nada a ver com o Sam's Club), tricampeão amador da capital, para entrar no time de aspirantes corinthiano em 1949, no qual foi campeão paulista no mesmo ano. Então subiu ao time principal, onde...

“Idário passou a figurar no posto de médio direito, usando o mesmo sistema de marcação que era adotado no quadro suplente e Idário, desde que entrou para o conjunto principal, jamais deixou de causar boa impressão. Sua figura avultou de jogo para jogo. Hoje Idário já está firme no ‘onze’ corinthiano e já ganhou maior quantidade de fãs. Seu jogo firme, útil, tem feito com que o Corinthians tenha nele um elemento de primeira.” (p. 17)

“Talvez, um dia ainda venha a ser um craque de consumadas qualidades no futebol brasileiro. Seu nome tem já um conceito firmado, mas poderá subir. Todavia, achamos que quanto mais aumente o seu prestígio de futebolista, mais Idário estaria colocado no meio dos jogadores que não se atormentam com a ‘máscara’. Idário não é assim. Temos estado com esse jogador várias vezes. Já notamos nele todas essas qualidades de craque que não se envaidece, que não procura fazer ‘cartaz’ com o que o futebol e a fama lhe dão. Idário mantém-se numa posição simples, olhando apenas para que possa um dia ter algo de importante que lhe tenha dado o futebol. Nisso, sim, pensa Idário.” (p. 18)

“Idário sabe que o futebol é bom. Que é uma coisa que garante para os jogadores ajuizados um porvir melhor e é sobre isso que ele quer tirar proveito futuramente. Pensando assim é que ele luta, é que ele procura ser um jogador cem por cento útil ao seu clube. Idário tem conseguido isso. Desde os primeiros chutes que deu na bola, dentro do Corinthians e até o presente momento, seu pensamento é esse. E, pensando assim o jogador, a torcida poderá estar certa de que terá nele sempre um jogador devotado ao Corinthians.” (p. 18)

“Todos os dias ele treina, quer no clube, quer em sua residência. Sabe que tem que manter seu físico em perfeitas condições e não perde ocasião para estar sempre em atividade. Não é daqueles jogadores que se desleixam, cuida-se sempre e procura manter seu físico em ordem. Não bebe, não faz extravagância e não dorme tarde. Isso só poderá lhe trazer grandes benefícios e assim agindo está não somente zelando pelo seu prestígio de jogador como também está olhando seriamente para o seu clube e procura corresponder inteiramente.

É assim Idário. Um jogador dedicado, um jovem que um dia ainda poderá ter o seu nome entre os grandes do futebol brasileiro.” (p. 18)

Como se via pelos sucessos recentes, o Corinthians virou a chave. Sim, no ano anterior, o time teve seus momentos históricos, como a vitória de 2x0 sobre a Portuguesa, em 08.05.1949, no Pacaembu, quando homenageou o Torino, que teve dezoito jogadores mortos em acidente aéreo, em 04.05.1949:

Para mais detalhes sobre a história da camisa grená no Corinthians, ver o tópico da @flavia.sccp aqui:

https://www.meutimao.com.br/forum-do-corinthians/1224555/corinthians-e-a-camisa-grena Corinthians e a camisa grená Você sabe a história por trás dessa camisa criada em 2011 pela Nike' Em 21 de julho de 1948, o Corinthians enfrentou o Torino, da Itália, em um amistoso no... meutimao.com.br

O problema do time de 1949 foi a fraca atuação no campeonato paulista:

“Ainda está bem vivo na alma da gente corinthiana o amargo das derrotas sofridas pelo Campeão do Centenário na campanha de 1949. Cada derrota das nossas cores equivalia a uma punhalada na alma de cada corinthiano; não dos corinthianos da hora da vitória, mas daqueles para quem o alvinegro faz parte inseccionável da vida.” (Francisco Ruiz, p. 26)

Alguns jogadores não tinham dado certo, como o zagueiro Norival, que ficou só quatro meses no clube:

Mas, em 1950, um novo campeão estava sendo moldado. P.ex., com a contratação do zagueiro Murilo, que ficaria até 1954:

Com isso...

“... A má estrela deixou de brilhar. Em seu lugar, surgiu outra de fulgor rutilante, a ofuscar os adversários do Campeão do Centenário. Então, a alma do corinthiano iluminou-se, como que por encanto. O véu tenebroso que envolvia seu coração rompeu-se, fazendo com que a alegria desalojasse a tristeza que nele fizera guarida. O Corinthians voltou a ser o Gigante, inexorável ceifador de seus adversários.” (Francisco Ruiz, p. 26)

Enquanto o futebol se recompunha, o Corinthians continuava estimulando outras modalidades, como natação (p. 12 e 21), pugilismo (vice-campeão paulista de 1949, p. 15), basquete (p. 5)...

... E vôlei (p. 25 e 28):

“Todos os obstáculos, apesar das dificuldades, eram transpostos e com o decorrer do tempo, por várias vezes, o voleibol feminino foi exibido com brilhantismo, em cidades do nosso ‘hinterland’. Verificava-se que nada conseguia deter a vitoriosa marcha do voleibol feminino, através do caminho do progresso. Novas adesões! Novos alentos! Entusiasmo! Aplausos! Disciplina! Harmonia! Tudo isso existia em profusão!” (Juveti, p. 25)

Assim, seguia o Corinthians incentivando as mulheres, como fez a cronista Luana na “Página Feminina”:

“... Faço um apelo a todas as corinthianas praticantes de esporte. Unam-se. Trabalhem para a grandeza dos desportos femininos. Procurem formar um ambiente útil ao nosso clube, ampliando, com moças novas, todas as seções, para que no dia de amanhã possamos nos orgulhar de sermos corinthianas. Acima de tudo, deve estar o nome glorioso e tradicional do nosso querido Corinthians.” (Luana, p. 29)

É o que as Brabas faziam, fazem e farão.