Médica do Corinthians recorda episódio com Sheik e aponta falta de vestiários femininos em estádios
8.6 mil visualizações 20 comentários Reportar erro
Por Meu Timão
A Dra. Ana Carolina Côrte, primeira médica mulher de um clube brasileiro e agora chefe do departamento médico do Corinthians, foi a protagonista da Corinthians TV nesta terça-feira. Em entrevista ao canal, a profissional falou sobre a discriminação com mulheres no futebol, além de sua trajetória no clube.
Ana Carolina afirmou nunca ter sofrido discriminação pelo seu gênero dentro do Corinthians, mas comentou sobre a falta de estrutura para as mulheres se sentirem confortáveis nos locais de trabalho no futebol. Ela cita que o próprio Corinthians só foi se mover agora para fazer um vestiário feminino.
“Nunca tive nenhum tipo de discriminação dentro do Corinthians, pelo contrário, todo mundo sempre me ajudou no que podia. Nós temos algumas dificuldades logísticas para mulher dentro do estádio, por exemplo, mas sempre que possível, eu fui compreendida e ajudada”, começou dizendo a Dra.
“Ainda é muito atrasado. Vou dar um exemplo nosso aqui dentro do Corinthians: a gente está acabando de ter um vestiário feminino. Estou no clube há seis anos e agora que a gente tem isso. Na Neo Química Arena, a gente não tem nenhum tipo de problema. Eu brinco que eu tenho um vestiário só meu, porque lá tem quatro vestiários, mas a maioria dos lugares não estão prontos para receber mulheres”, complementou.
Em sua declaração, a médica aponta a ausência de vestiários femininos em locais como o Estádio Centenário, no Uruguai, e em estádios como os de Ribeirão Preto e do Santos. Ela ressalta a necessidade de soluções improvisadas, como o uso do banheiro do ônibus ou a espera pelo esvaziamento do vestiário masculino.
“A gente foi ano passado para um jogo no Centenário, no Uruguai. Recebemos a informação de que estava tudo reformado. O pessoal do estádio veio mostrar para a gente e aí eu falei assim: cadê o banheiro feminino? Cadê o espaço para eu trocar de roupa? Ele não foi pronto para receber mulher. Alguns locais têm, são poucos, mas temos muitas dificuldades, como em Ribeirão Preto, em Santos. Às vezes, eu uso o banheiro do ônibus que a gente vai, porque não tem banheiro para mim, ou eu espero o time todo sair de dentro do vestiário”, relatou.
Início no Corinthians
No Corinthians há seis anos, Ana Carolina relembrou seu primeiro jogo como médica do clube, quando foi chamada para auxiliar à beira do campo. Sua estreia ocorreu durante a vitória por 1 a 0 sobre o CSA, em julho de 2019, na Neo Química Arena, em uma partida válida pelo Campeonato Brasileiro.
“Eu lembro direitinho, Corinthians e CSA, dia 14 de julho de 2019, na Neo Química Arena. A torcida me acolheu de um jeito... Um carinho muito grande que eu recebo, um carinho que nunca imaginei receber. Nunca tive nenhum problema, desde jogadores, diretoria, funcionários”, disse.
Ana Carolina compartilhou sua ansiedade antes de sua estreia e, com humor, revelou que desejava que alguém precisasse de seus serviços naquele jogo. Emerson Sheik, coordenador de futebol na época, entrou na brincadeira, sugerindo que, se fosse jogador naquele momento, cairia logo no primeiro minuto do jogo para dar a oportunidade à médica de atuar.
“Estava todo mundo vivendo essa expectativa junto comigo, por eu ser a primeira médica. Aí eu falei para algumas pessoas: 'Eu quero entrar nesse jogo, alguém tem que sentir alguma coisa'. Mas aí o Sheik falou bem assim: 'Se sou eu ali, eu caio no primeiro minuto, porque eu sei que a sua imagem vai ficar ali para sempre'. Foi muito louco, porque com cinco minutos de jogo, eu já tinha entrado três vezes no campo”, continuou.