Futebol e política não se misturam: fatos históricos do Corinthians que desmentem isso
Opinião de Victor Cônsoli
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Recentemente a frase "não se mistura futebol com política" voltou à tona entre os corinthianos após o Corinthians desistir de contratar o auxiliar técnico Rodrigo Santana, que esteve em um ato antidemocrático e tinha seu perfil do Instagram vinculado à fake news. Contudo, o dito é uma farsa, principalmente quando se trata do Time do Povo.
Futebol e política se misturaram durante toda a história do esporte e do Timão. Quando tudo começou só a elite brasileira jogava futebol competitivo, pois não precisava dividir o tempo entre trabalhar para se sustentar e o esporte. Os clubes eram basicamente formados por estudantes universitários e membros da alta sociedade.
Nesse contexto nasce o Corinthians, fundado por operários, composto pelos pobres da sociedade paulistana. O clube ajudou na popularização do futebol entre os menos favorecidos, inclusive entre os negros.
O Timão, aliás, lutou muito com a Liga Paulista para inscrever jogadores negros no clube. Davi foi o primeiro a vestir o manto alvinegro, mas a sua inscrição foi negada no ano de 1914 pela Liga. Apenas em 1919 o clube conseguiu inscrever o Bingo, que se tornou o primeiro preto a vestir a camisa do Corinthians em um jogo oficial.
Um dos primeiros clubes do Brasil a aceitar negros, o Corinthians tem na sua raiz lutar pelas causas do povo, e até superaria o maior teto futebolístico: a rivalidade. Em 1945, o clássico Corinthians x Palmeiras proporcionou o "Jogo Vermelho", nome dado na obra do ex-ministro dos esportes Aldo Rebelo.
O amistoso foi organizado em benefício do Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT) para arrecadar fundos para o Partido Comunista do Brasil (PCB) e aconteceu no dia 13 de outubro daquele ano. Depois de um duelo de abertura entre os sindicatos da teceleagem e trabalhadores civis, o Dérbi rendeu 114.464 cruzeiros de renda.
Em 1981 se iniciou o movimento mais famoso na relação futebol e política, a Democracia Corinthiana. Enquanto o Brasil vivia sob uma ditadura militar, dentro do Corinthians todas as decisões eram tomadas a partir de votação. Independente de ser jogador, comissão ou roupeiro, todo voto tinha peso um para decidir premiação, ida a concentração ou contratação.
O movimento era liderado por Casagrande, Wladimir e Sócrates, esse último até hoje simbolizado como figura da democracia no país.
Contudo, por que seja a mais lembrada o Corinthians não parou de usar sua relevância no cenário mundial para falar de atos fora das quatro linhas. Em 2019, a camisa alvinegra teve estampada a Estrela de Davi.
A ação social serviu para relembrar a Noite dos Cristais, quando iniciou a perseguição nazista contra os judeus. Para ser ainda mais importante, fazia sete anos que nenhuma estrela ficava acima do escudo do Corinthians na camisa, sendo uma exceção.
Além disso, a participação do Corinthians na pandemia também é política. Antes de citar a mais recente, em 1918 o clube ajudou no combate a Gripe Espanhola. Torcedores e sócios ajudaram a Cruz Vermelha, o clube fez uma arrecadação para o movimento.
Na Ponte Grande, primeiro estádio do Corinthians, os voluntários se juntavam para ajudar a Cruz Vermelha. Em 2021, a Neo Química Arena, atual casa do Timão, foi sede para que a população pudesse se vacinar contra o COVID-19, a última pandemia que o mundo enfrentou.
Política e futebol, ou melhor, política e Corinthians não se mistura?
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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