Esta coluna não é sobre Carlos Miguel
Opinião de Beatriz Maineti
5.0 mil visualizações 48 comentários Comunicar erro
Esperei muito tempo para falar sobre o assunto. Agora, que tudo se encaminha para um desfecho tenebroso, chegou a hora de discutir. A saída do Carlos Miguel tem pouco a ver com ele, e muito a ver com a desvalorização que assola o Corinthians há anos.
Em 6 de junho de 2024, chegou ao fim a história de Carlos Miguel no Corinthians. Embora o ponto final tenha sido prolongado por tempo demais, o goleiro de 25 anos selou sua partida do clube do Parque São Jorge naquela noite quando, procurado por duas equipes inglesas, determinou que seu rumo era o velho continente sem pensar duas vezes.
E o maior problema nisso tudo é que, realmente, ele não precisou pensar nem meia vez. Embora o dia 6 de junho tenha marcado o encerramento de sua passagem pelo Corinthians, o fim dela já havia sido decretado muito antes, ainda em janeiro de 2023, e contou com assinatura orgulhosa do então presidente do clube, Duilio Monteiro Alves.
Veja bem: Carlos Miguel, um promissor goleiro de 2,04m de altura, tinha acabado de completar 24 anos de idade quando colocou a caneta no papel para firmar seu novo vínculo com o clube, que duraria até o fim de 2025. Ao auge do arqueiro acontece por volta dos 25.
Duílio argumentou, por meio de nota, que a decisão foi tomada com base no seu status de reserva e na condição absoluta de Cássio no gol do Corinthians. Mas é fácil tomar decisões com base em explicações simplistas. Foi com tranquilidade que o então presidente assinou, sem pensar no âmbito profundo da dita assinatura, a exigência do staff do jogador.
Seguindo a justificativa apresentada pelo próprio ex-presidente, Carlos Miguel era reserva de Cássio, considerado por muitos o maior ídolo da história do clube. Como ele, mandatário de um clube que tinha, até então, 112 anos de história, se curva diante da exigência bisonha do empresário de um jogador que, na ocasião, era, de fato, reserva absoluto?
Quatro milhões de euros, no mundo do futebol, não é dinheiro; é troco. Assinar um contrato que previa a diminuição substancial da multa rescisória, que chegaria aos quatro milhões de euros, significava aceitar deliberadamente um contrato prejudicial ao clube que ele mesmo presidia. Ainda assim, porém, sem questionar sua própria decisão, o contrato foi fechado.
O mais triste, porém, é admitir que este é apenas mais um exemplo das inúmeras curvaturas que o ex-presidente fez diante de empresários e jogadores dos mais variáveis níveis. Isso aconteceu quando ele aceitou fechar com Róger Guedes deixando 60% dos direitos do atleta nas mãos dele mesmo, dando a ele o poder de decisão sobre o futuro e, mais uma vez, preterindo os interesses do Corinthians em favor das vontades do jogador.
Este texto não é sobre o goleiro, o atacante, o meia, o lateral, o zagueiro ou quem quer que ocupe as quatro linhas; este texto é sobre quem segura a caneta. O Corinthians foi colocado de lado mais de uma vez para servir àqueles que deveriam servi-lo, não ao contrário.
A justificativa "ou era assim ou ele não viria" não cabe neste contexto. Não cabe na boca de quem preside o Corinthians! A desvalorização do clube começa de dentro, quando os próprios dirigentes cedem à pressões externas para fechar com jogador X, Y e Z, ignorando a grandeza da instituição, de sua torcida e, principalmente, o bem-estar administrativo e financeiro da equipe.
Mais triste do que a constatação é a descoberta de que, mesmo com a mudança de gestão, os erros persistem. Augusto Melo, atual presidente do Corinthians, preteriu o bem-estar financeiro do clube que, como ele mesmo admite, está "sangrando", em favor da imagem de um ídolo quando liberou Cássio de graça para assinar com um adversário direto do Campeonato Brasileiro.
Não houve compensação financeira, perdão de dívida, abatimento de dívida. Não houve nada! Houve o Cássio saindo limpo, sem querer se despedir da torcida, enquanto o presidente se preparava para pagar salgadas parcelas do que deve a ele. A imagem do ídolo, realmente, saiu sem o litígio de uma negociação pela ruptura contratual. O Corinthians, por outro lado, foi amplamente prejudicado.
A instituição Sport Club Corinthians Paulista clama por uma valorização verdadeira, que receba a atenção interna que merece. Enquanto isso não acontecer, seguiremos à mercê das decisões alheias que, na esmagadora maioria, não levam em consideração o clube.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.