Augusto Melo quer devolver o Corinthians para o corinthiano. Mas qual corinthiano?
Opinião de Rodrigo França
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O presidente Augusto Melo passou toda sua campanha eleitoral dizendo que iria “devolver o Corinthians para o corinthiano”, frase que ele utilizou também depois de vencer a eleição. Na verdade, essa frase virou um lema também de gestão.
Na estreia do Corinthians em casa pela Sul-Americana, contra o Nacional do Paraguai, o presidente do clube teve a primeira chance de mostrar, em um torneio internacional, que o dito Time do Povo voltou para o seu povo. Teve. Augusto não cumpriu. Os preços estabelecidos foram muito fora do normal, maiores até que na estreia do Corinthians Sul-Americana 2023, mas com uma diferença: ano passado era fase mata-mata, teoricamente mais importante.
Para qual corinthiano o presidente Augusto Melo deseja devolver o Corinthians? Para o corinthiano com maior poder aquisitivo, que consegue pagar o ingresso sem comprometer sua renda? Se o Corinthians é do povo, ele tem que ser feito para o povo que consegue marcar presença e apoiar o seu time -- que não vive uma boa fase --, não apenas para uma minoria da torcida. O valor baixo englobaria todos, gregos e troianos.
Precisamos debater com mais ênfase a elitização do futebol brasileiro e a forma como os dirigentes parecem unidos em relação a isso. O Corinthians é historicamente movido pela sua torcida, e esses mesmos torcedores estão sendo deixados de lado em competições importantes. Devemos reforçar os protestos contra essa gourmetização das arquibancadas.
O argumento de alguns apoiadores do presidente Augusto Melo é que “precisamos pagar as dívidas”. É como se a barata apoiasse o veneno que tem o único intuito aniquilá-la. O torcedor que não tem condições de adentrar ao estádio não deveria apoiar esse tipo de situação. Existem inúmeras formas de conseguir dinheiro e pagar as dívidas do clube, mas encarecer tanto o ingresso da sua torcida não deveria ser uma.
E minhas críticas ao Augusto Melo são pontuais, tal como foi quando ele falava abundantemente e deixava o clube exposto. Acho, sim, que ele tem feito um bom trabalho no comando do Corinthians, com bons patrocínios e contratações interessantes para um ano de reformulação, mas nunca vou apoiar uma agressão financeira contra o meu povo e a torcida que muitas vezes traz a vitória para casa, empurrando mais do que o time consegue jogar.
Espero que o Corinthians de fato seja devolvido para os corinthianos, mas não apenas para os selecionados.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.