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Adinkra Hene e Dwennimmen: conheça os símbolos por trás da tipografia da nova camisa do Corinthians

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Na temática antirracista, até a tipografia da nova camisa do Corinthians possui referências à causa

Jhony Inacio / Meu Timão

Para a temporada 2024, o Corinthians lançou toda sua coleção de vestimentas guiado pela luta antirracista. A temática não se restringiu apenas às roupas. Até a tipografia da camisa alvinegra tem como norte a causa, com todo o design desenvolvido a partir de dois Adinkras: o Hene e o Dwennimmen.

Adinkras são símbolos que representam determinadas ideias. Nasceram nos povos originários de Gana, que inseriam essas grafias tanto em objetos, como vasos, quanto em roupas. O Corinthians utilizou o Hene e o Dwennimmen nos números de suas camisas. O Meu Timão conversou de modo exclusivo com a designer Giulia Fagundes, responsável por esse desenvolvimento, que explicou sobre as concepções da fonte, intitulada 'Tributo'.

"Os Adinkras me ajudaram muito a amarrar o conceito. Desde o começo da narrativa é impossível não lembrar de África, porque as pessoas racializadas vieram de lá. Geralmente quando falamos de África pensamos em apenas uma perspectiva e é muito difícil vermos em algo tão grandioso as pessoas falando da África como um lugar criador de uma narrativa, de uma história. Quando trago os Adinkras, é como se estivesse reforçando: 'olha como somos inteligentes, olha como criamos, sim, as coisas'. Tem também essa camada que quis reforçar. É um alfabeto de símbolos que têm seus significados. Infelizmente ainda temos muito racismo dentro do futebol e em todo lugar, então eu fechar essa história mostrando essa outra perspectiva é muito interessante", comentou.

Hene é um símbolo redondo, que é o "rei" de todos os outros, simbolizando grandeza, prudência e firmeza. Já Dwennimmen são chifres de dois carneiros se enfrentando. Ao mesmo tempo que indica força, também representa humildade, o equilíbrio que todo indivíduo precisa ter.

Adinkra Hene (esq.) e Adrinkra Dwennimmen (dir.)

Adinkra Hene (esq.) e Adrinkra Dwennimmen (dir.)

Meu Timão

"Desde o começo o conceito já tinha sido fechado. Eles (Nike e Corinthians) queriam trabalhar com imprensa negra e afrofuturismo, então essa foi minha lição de casa. O que fiz foi criar uma narrativa que conseguisse juntar esse todo. Falei muito sobre a diáspora africana e como essa produção geral não é só no futebol, mas também na música e na cultura em geral. Elas são muito geométricas e não são completamente regulares, porque em todos os lugares que me inspirei eram coisas que tinham sido feitas à mão ou que eram mais antigas. Não tinha tanta perfeição como no computador, por exemplo", apontou Giulia Fagundes.

"Eles também queriam algo texturizado para complementar. Desenvolvi a textura, que foi toda a partir de símbolos Adinkras, que são símbolos de Gana, na África. Cada um tem seu significado e os dois que escolhi, Hene e Dwennimmen, fui repetindo e formando uma grande textura. Tanto visualmente quanto conceitualmente eles foram ajudando a formar tudo", completou.

Na camisa, Giulia explica que utilizou do afrofuturismo na escolha das cores. Os números das camisas são envolvidos pelo prata, enquanto as letras são totalmente desta cor, algo que foi escolhido pelos próprios jogadores. "Foi muito colaborativo. Eu mandei um e-mail com as fontes e sugestões de cores. Me responderam dizendo que tinham votado tanto os jogadores quanto o pessoal da Nike e do Corinthians no prata. O processo foi bem interessante. Confesso que estava mais inclinada para o dourado (risos), mas o prata foi a melhor solução".

"A minha entrega conversa bastante com o afrofuturismo a partir do momento que a gente está falando do passado e do futuro ao mesmo tempo, sabe? Os jogadores estão usando essa fonte em referência a tudo que já aconteceu, tudo que os jogadores antigos já fizeram. Só por isso que eles estão ali, inclusive. E as crianças estão vendo os jogos, alguma delas pode se inspirar de alguma maneira", comentou na sequência.

Nos números, é possível ver de forma bem destacada os Adinkras. Cada número foi entalhado com os símbolos de Hene e Dwennimmen

Nos números, é possível ver de forma bem destacada os Adinkras. Cada número foi "entalhado" com os símbolos de Hene e Dwennimmen

Divulgação / Nike

Como o convite foi feito?

Foi uma história um tanto quanto engraçada, conta Giulia. A designer conquistou bastante destaque ao receber o prêmio de Jovem Talento da América Latina no Festival Latinoamericano de Design de 2020. Desde então, trabalha principalmente com marcas, como o Grupo Globo e o Spotify. No entanto, nunca havia feito parceria com um clube de futebol.

"Entraram em contato comigo pelo Instagram perguntando se eu era corinthiana e se eu curtia futebol (risos). Disse que sim e depois de um tempo eles voltaram com um e-mail me chamando para uma reunião. Não lembro se já falava do Corinthians ou não. O que me marcou muito foi que eles tinham uma apresentação montada com 'Nike + Giulia Fagundes' com minha foto, uns projetos e um textinho fazendo esse convite. Não parecia que estavam falando com muitas pessoas, parecia que me queriam no projeto e mostrou quanto eles conheciam meu trabalho e que fazia sentido eu estar nele", relembrou durante a conversa.

"Eles queriam que conversasse com a luta antirracista em campo e com todos os feitos da população preta no geral, principalmente da galera que já jogou e joga no Corinthians, tanto no time masculino quanto feminino. Acho que foi um dos maiores que já participei", complementa, destacando que todo o diálogo foi bastante rápido, iniciando em fevereiro. O design foi formulado em cerca de um mês.

A correria foi recompensada com o sucesso da tipografia, bastante enaltecida nas redes sociais junto das roupas como um todo. O modelo jogador da segunda camisa, por exemplo, está esgotado no site da Nike e na loja oficial do Corinthians.

"Tentamos reforçar muito o quanto o futebol também é uma ferramenta de comunicação muito importante. O Corinthians e a Nike entenderam muito bem isso e trouxeram essa possibilidade de trazermos um propósito mesmo. Ainda estou digerindo tudo isso porque furou a bolha. Não fico só no meu universo, não falo só com designer e as pessoas que gostam das mesmas coisas que eu. Estou falando com pessoas de classes sociais e de locais diferentes. É muito doido ver pessoas na rua vestindo o meu trabalho e até no jogo", comentou Giulia.

"Foi um processo muito bom. Geralmente quando as empresas são muito grandes, costuma ser um processo muito complexo, porque são muitas instâncias de aprovação e as empresas não estão abertas a receber sugestões e deixar o criativo livre. Nesse caso me deixaram muito livre! E foi legal também que citaram meu nome. Infelizmente não é muito comum creditarem, e nessa fiquei muito feliz", relembrou falando do processo.

Veja mais em: Camisa do Corinthians, Ações de marketing, Ações sociais do Corinthians e Diretoria do Corinthians.

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